Pelas próximas duas décadas, no mínimo, uma das cidades mais turísticas da Europa e capital da Holanda se parecerá mais com um gigantesco canteiro de obras.
Isso porque Amsterdã, com seus canais alinhados com edifícios antigos dos séculos 17 e 18, está se desintegrando lentamente.
Cerca de 200 quilômetros de paredes de edifícios estão tão degradadas que correm o risco de desabar nos canais, podendo levar prédios e pessoas com eles.
No ano passado, uma parede de canal perto da Universidade de Amsterdã desabou sem aviso, deixando estragos e canos de esgoto pendurados. Felizmente ninguém estava passando por ali, mas um dos barcos turísticos que navegam constantemente pelos canais tinha acabado de passar.
O problema fundamental
Como grande parte da Holanda, Amsterdã fica abaixo do nível do mar.
A cidade foi construída em um pântano e fortemente expandida no século 17, e é apoiada sobre milhões de estacas de madeira que servem como alicerces.
O Palácio Real, por exemplo, está apoiado sobre 13.659 estacas de madeira. Praticamente tudo no centro de Amsterdã é sustentado por essas estacas.
As estacas, embora ainda estejam relativamente em bom estado, foram projetadas para uma época totalmente diferente, em que suportariam o peso de cavalos e carruagens, mas não de caminhões e equipamentos pesados.
À medida que a vida moderna mudou a cidade, muitas casas foram fortificadas com cimento e concreto, mas as bases das ruas e paredes do canal foram ignoradas.
Muitas das estacas de madeira se moveram, racharam ou desabaram sob a pressão, fazendo com que as pontes e as paredes laterais do canal cedessem e rachassem. A água então penetra, limpando a argamassa, esvaziando ainda mais a infraestrutura e criando buracos.
O plano de restauração
No total, são 1.600 pontes e 600 quilômetros de cais sob gestão da prefeitura.
A reconstrução levará pelo menos 20 anos e custará 2 bilhões de euros (cerca de 12 bilhões de reais) e talvez até mais, calcularam os especialistas.
No centro da cidade, 15 pontes já estão em reforma. Algumas estão fechadas, como Bullebak, uma ponte icônica e parte crítica da infraestrutura da cidade.
Os engenheiros estão tentando evitar o colapso das paredes do canal às quais a ponte está conectada, ao mesmo tempo que desemaranham uma rede de cabos de eletricidade e internet, linhas telefônicas e outros serviços que usam a ponte.
Mergulhadores e técnicos com câmeras subaquáticas operadas remotamente procuram as piores rachaduras.
Ainda assim, muitos veem principalmente o lado negativo de todo o trabalho.
Ao longo de vários dos canais mais bonitos da cidade, árvores históricas foram cortadas para aliviar a pressão nas paredes do canal, e estacas-pranchas de aço escoram paredes consideradas em risco de colapso iminente.
O vereador responsável pelo projeto de reconstrução, Sr. De Vries, em entrevista ao The New York Times, reconheceu que Amsterdã nos próximos anos parecerá diferente de seu usual cartão-postal. Mesmo assim, ele insistiu que os turistas não devem ser desencorajados de visitar. “Convidamos a todos para vir e ver o que estamos fazendo”, disse ele. “Queremos que os visitantes percebam que uma cidade tão magnífica também precisa de manutenção.”
Fontes:
Imagens: Ilvy Njiokiktjien para The New York Times.
Sinkholes, Collapsing Canal Walls, Rickety Bridges: Amsterdam Is Crumbling. The New York Times. Julho, 2021.
Tratamento de canal: Amsterdã corre contra o tempo para não afundar. Revista Veja. Julho, 2021.