A Engineering News-Record (ENR) é uma revista semanal norte-americana e amplamente considerada como uma das publicações mais importantes da indústria da construção civil mundial.
Como forma de divulgar e incentivar projetos pelo mundo, há nove anos a ENR elege o melhor projeto global do ano, pelo Global Best Projects Awards, em que são escolhidas obras civis exemplares que demonstram os riscos e recompensas – e os obstáculos superados – no design e construção internacional.
Neste ano de 2021, um painel de jurados da indústria escolheu como “projeto do ano” a Estação de Tratamento de Águas Residuais de Bahr Al Baqar, localizada na península de Sinai, no Egito.
No artigo de hoje, vamos entender porque esse projeto de engenharia foi realmente incrível e desafiador, e que pode se tornar um excelente exemplo de como aliar gestão, engenharia e meio ambiente.
Um grande problema ambiental requer uma grande solução
Em um momento em que o Egito enfrenta uma escassez significativa de água, o governo do país está fazendo um esforço concentrado para lidar com todos os problemas hídricos, incluindo a degradação ambiental do Lago Manzala, um dos maiores lagos do Egito.
Além disso, o governo está trabalhando para transformar a Península de Sinai – atualmente subpovoada – em um lugar atraente para se viver e trabalhar.
Este ano, o Livro Guinness dos Recordes Mundiais reconheceu a instalação de Bahr Al Baqar com mais de 60 mil metros quadrados como a maior estação de tratamento de águas residuais do mundo, com base na quantidade de água que passará por ela – a planta processa 64,8 metros cúbicos de água por segundo.
O projeto todo, de 739 milhões de dólares, foi concluído dentro do prazo e do orçamento e atende às metas estabelecidas na Agenda Nacional do Egito para 2030, bem como às metas de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que incluem a garantia de acesso a água potável e saneamento para todas as pessoas.
Como funciona a estação
As águas residuais da região entram no lago Manzala pelo canal de drenagem de Al Baqar, com 106 quilômetros de extensão.
O dreno foi construído em 1914 para permitir que uma pequena quantidade de escoamento agrícola entrasse no lago, mas nunca foi planejado para receber o nível de água residuária que agora passa por ele.
Vários estudos mostram que a poluição do dreno afetou não apenas a qualidade da água do Lago Manzala, mas também a saúde pública.
O principal objetivo da estação de tratamento Bahr Al Baqar é, portanto, reaproveitar a água proveniente do dreno para ser utilizada na irrigação ao longo do Canal de Suez.
Como resultado, a quantidade de água necessária para o abastecimento, a água potável, será reduzida.
A água do dreno será tratada na nova planta, depois distribuída por uma rede de túneis que cruzam sob e ao longo do Canal de Suez e usada principalmente para irrigação.
A planta possui quatro linhas de tratamento de água com capacidade de processamento diário de 1,25 milhões de metros cúbicos cada, sendo 5,6 milhões de metros cúbidos por dia usados para irrigação agrícola.
O projeto foi equipado com processos avançados de bombeamento de água bruta, coagulação, floculação, decantação, filtração e desinfecção suplementar com ozônio.
Para a equipe de construção e design, o projeto apresentou um grande desafio: construir a maior estação de tratamento de água do mundo em menos de 24 meses durante a pandemia da COVID-19.
Fonte: ENR.
Uma obra para servir de exemplo
A construção começou em setembro de 2019 e foi concluída em maio de 2021.
Durante esse período, mais de 6.000 trabalhadores, trabalhando em três turnos diferentes por dia, registraram mais de três milhões de horas de trabalho.
Especialistas de nove países se comunicaram virtualmente e usaram a modelagem BIM para manter o projeto nos trilhos.
Como o trabalho envolveu a travessia do Canal de Suez, que permaneceu operacional, a entrega de materiais e suprimentos teve que ser cuidadosamente coordenada.
O local original reservado para a instalação ficava no lado oeste do Canal de Suez, mas como aquela terra tinha potencial para ser arável, a equipe sugeriu construir no lado leste.
Isso por si só apresentava desafios, uma vez que o solo arenoso não era propício para suportar uma grande estrutura.
Para contornar isso, a equipe de construção usou 6.500 estacas de 80×100 centímetros para estabilizar o solo e fazê-lo suportar as lajes de fundação da instalação.
Além disso, a equipe instalou 16.000 metros quadrados de unidades de secagem solar para secar o lodo que sai da centrífuga da planta em mais 50%.
O sistema de secagem solar é o primeiro a ser instalado no Egito e é um dos maiores do tipo no mundo. A maior parte do lodo seco será reutilizado como fertilizante ou para fins industriais.
Parceria público-privado
O projeto da estação de tratamento de águas residuais Bahr Al Baqar, que também envolveu a construção de estações de bombeamento e um carregador de água, faz parte do programa de desenvolvimento de Sinai.
O financiamento da obra veio por meio de uma parceria público-privada, em que o setor privado forneceu dois terços do financiamento geral e o governo o restante.
A estação entrou em funcionamento total em dezembro deste ano e, segundo notícias, uma outra estação de tratamento de águas residuais agrícolas já está planejada para um local próximo, e será ainda maior do que Bahr Al Baqar.
Fontes principais:
ENR Global Best Projects Award Winners 2021. Engineering News-Record. Dezembro, 2021.
2021 Global Project of the Year and Best Water-Wastewater: Bahr Al Baqar Water Reclamation Plant. Engineering News-Record. Dezembro, 2021.
Outras referências:
Bahr Al Baqar wastewater treatment plant, the largest of its kind in the world, inaugurated in Egypt. Construction Review Online. Setembro, 2021.
Egyptian pres. inaugurates Bahr Al Baqar, world’s largest wastewater treatment plant. Egyptoday. Setembro, 2021.