Aqui no Blog do Canal da Engenharia, estamos trazendo uma série de artigos sobre os biomateriais, onde a biotecnologia chega aos canteiros de obras.
No primeiro artigo, já falamos sobre o fascinante bioconcreto e sua capacidade de consertar suas próprias rachaduras.
Hoje, vamos falar sobre um tipo de material feito com fungos, que pode ser usado para isolar e proteger edifícios do fogo, enquanto ainda ajuda na sustentabilidade do planeta.
Confira o biomaterial Micélio (Mycellium), na nossa série de artigos Biotecnologia na Engenharia Civil.
Materiais isolantes atuais
Atualmente, a construção civil utiliza principalmente materiais de origem petroquímica para fazer o isolamento de residências e edifícios.
Os materiais mais utilizados são derivados de plásticos, e fazem o isolamento térmico, elétrico ou acústico da construção.
No entanto, alguns materiais plásticos podem levar até 450 anos para se decompor.
Outros também só podem ser fabricados com uso intensivo de recursos naturais, com métodos de produção que utilizam muita matéria prima, energia e água.
Estrutura dos fungos
Não é de hoje que os fungos estão presentes no nosso dia a dia.
Eles fazem parte da fabricação de antibióticos, são fonte de alimento e também são os queridinhos fabricantes de pães, cervejas, vinhos, e do álcool combustível, através do processo de fermentação feito pelas leveduras (um tipo de fungo).
A ideia agora é utilizar fungos também como biomaterial. Nesse caso, a aplicabilidade do ser vivo se concentra em uma parte específica da estrutura do fungo, o chamado micélio.
Vamos relembrar um pouco das aulas de biologia para entender essa estrutura:
O micélio é a parte vegetativa do fungo, ou seja, a parte que fornece nutrientes e sustenta o crescimento do ser vivo.
No cogumelo comestível champignon/paris, por exemplo, enquanto o cogumelo é a parte que floresce, o micélio é a estrutura viva semelhante a uma raiz, uma rede de finos filamentos brancos que é encontrada principalmente no solo.
O micélio desempenha um papel fundamental na decomposição da biomassa e no retorno de nutrientes ao solo.
Micélio como biomaterial
Quando o fungo é implantado em local adequado, essas fibras brancas (o micélio) crescem muito rapidamente, e se comportam como uma cola, cimentando o substrato no qual cresceram e transformando-o em um bloco sólido.
O substrato para o crescimento do micélio pode ser composto de serragem, madeira moída, palha, vários resíduos agrícolas ou outros materiais semelhantes que, de outra forma, iriam para o lixo.
Além disso, dependendo do tipo do micélio e do substrato utilizado, o produto final desse processo pode ser moldado para produzir painéis isolantes, móveis, acessórios, tecidos, materiais de embalagem e até tijolos.
As características dessas fibras é o que fazem dela especialmente interessante para a construção:
- O micélio tem capacidade de crescer formando fibras muito rapidamente, além de não ser tóxico.
- Grandes quantidades de micélio podem ser fabricadas utilizando subprodutos agrícolas das fazendas, eliminando o desperdício.
- As fibras de micélio são flexíveis, e podem assumir qualquer forma desejada.
- O material possui condutividade térmica muito baixa, o que o torna um isolante térmico ideal.
- Testes iniciais demonstram que o micélio libera pouco calor e fumaça durante a queima, sendo, portanto, um protetor contra o fogo.
- A fibra oferece excelente isolamento acústico, com absorção acústica em testes de pelo menos 75% a 1000 Hz (a frequência típica do ruído do tráfego rodoviário).
Em 2014, a equipe de arquitetura The Living construiu uma torre de tijolos em forma de cogumelo. A torre, conhecida como “Hy-Fi”, ficou no centro de Manhattan, e tinha tijolos inteiramente construídos com micélio cultivado em resíduos agrícolas.
A torre tinha 10.000 tijolos e alcançava 12 metros de altura.
O tijolo de micélio de longe não é tão forte quanto um tijolo convencional.
A desvantagem do micélio como material de construção é exatamente essa: suas fibras não podem carregar muito peso.
No entanto, os edifícios requerem muitas peças que não precisam carregar muito peso, como material de isolamento, paredes internas e revestimento de fachada.
Dessa forma, muitas empresas pelo mundo já estão desenvolvendo painéis de isolamento feitos de micélio.
A sturtup Biohm, do Reino Unido, ja tem no mercado um painél de isolamento feito com micélio, que foi cultivado utilizando resíduos orgânicos de indústrias.
Além disso, a NASA também está atualmente pesquisando o uso de micélio para construir habitações em Marte.
Referências
Can Mycelium be the new biomaterial? Planet Rescue. Julho, 2021.
Albert, H. Biomaterials Are Making the Building Industry More Sustainable. LabioTech.eu. Abril, 2021.
Robertson, O. e colaboradores. Fungal Future: A review of mycelium biocomposites as an ecological alternative insulation material. NordDesign/Dinamarca. 2020.
Mushroom Buildings? The Possibilities of Using Mycelium in Architecture. ArchDaily. Em: archdaily.com/949007/mushroom-buildings-the-possibilities-of-using-mycelium-in-architecture. 2020.
Imagem de capa: TheAlphaWolf, CC BY-SA 3.0 http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/, via Wikimedia Commons.