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5G: por que as companhias aéreas norte-americanas estão preocupadas com a nova tecnologia?

por Taina Bueno

Nos últimos dias, as notícias do lançamento do novo serviço de telefonia celular 5G nos Estados Unidos geraram uma briga entre as empresas de telecomunicações e o setor de aviação.

As companhias aéreas norte-americanas alegam que o serviço sem fio de alta velocidade pode interferir nas tecnologias das aeronaves e causar interrupções que podem ser até catastróficas.

Essas empresas dizem que a migração para o novo serviço 5G, previsto para começar na metade de janeiro, poderia inutilizar um número significativo de aeronaves, causando um verdadeiro caos nos voos dos EUA.

Em muitos países da Europa, onde a tecnologia já está bem estabelecida, e no próprio Brasil, onde a 5G também já está iniciando suas operações, essa discussão a princípio não está ocorrendo.

Mas, afinal, o serviço 5G pode realmente interferir nos aviões? E isso só aconteceria nos EUA?

O problema

No início de 2021, os Estados Unidos leiloaram a largura de banda 5G de médio alcance para empresas de telefonia móvel, e a faixa escolhida foi de 3.7 a 3.98 GHz no espectro conhecido como banda C.

Em tese, quanto maior a frequência no espectro, mais rápido é o serviço. Portanto, para obter o valor total do 5G, as operadoras desejam operar em frequências mais altas.

O problema é que, um equipamento chamado de altímetro (ou rádio altímetro) – que mede o quão acima do solo um avião está viajando – de alguns modelos de aviões, opera na faixa de 4.2-4.4 GHz, e a preocupação é que as frequências de 5G leiloadas no país fiquem muito próximas dessa faixa de operação de alguns altímetros, e possa interferir na leitura desses instrumentos, como explicado pela Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA).

Em termos de legislação, a Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) recomenda uma separação de 200 MHz entre o espaço da rede de telefonia e o utilizado em serviços de radionavegação aeronáutica. No caso dos EUA, a separação está em cerca de 220 MHz (veja no infográfico abaixo), porém, embora dentro da recomendada, especialistas dizem ser muito próxima do limite de segurança, e poderia causar algumas interferências.

Essas interferências poderiam ser um problemão em pousos e decolagens com baixa visibilidade, e até mesmo em mudanças de rotas de voos.

Adaptado de Theo Leggett/BBC news.

Na última terça-feira (25/01), a FAA emitiu uma Diretiva de Aeronavegabilidade (AD) proibindo os aviões Boeing 747-8, 747-8F e toda a família 777 de pousar em aeroportos onde poderia ocorrer interferência da 5G; essa diretiva afeta aproximadamente 336 aviões nos Estados Unidos.

Como é em outros países?

Em vários outros locais pelo mundo, o lançamento do serviço 5G ocorreu sem dores de cabeça.

A União Europeia, ainda em 2019, estabeleceu padrões para frequências 5G de médio porte na faixa de 3.4 a 3.8 GHz, uma frequência mais baixa do que o serviço definido a ser lançado nos Estados Unidos. A largura de banda foi leiloada na Europa e está em uso em muitos dos 27 estados membros do bloco até agora sem problemas.

Na França, o espectro usado está entre 3.6 e 3.8 GHz, ficando mais longe do usado para altímetros. Além disso, os franceses ainda limitaram a potência das antenas 5G e restringiram sua altura perto de aeroportos para reduzir a possibilidade de interferência.

No Canadá, as áreas ao redor dos aeródromos foram designadas como “zonas de exclusão” com serviço 5G restrito. As antenas próximas também devem ser inclinadas para baixo e longe das trajetórias de voo para evitar interferência com a aeronave durante o pouso.

No Brasil, a principal faixa leiloada para oferecer 5G aos consumidores foi de 3.3 GHz a 3.7 GHz, com uma diferença de pelo menos 500 MHz da frequência de operação dos altímetros. Mesmo assim, a Embraer disse que fará testes para avaliar se há ou não interferência nos aeroportos brasileiros.

Possíveis soluções

A Verizon e a AT&T, as duas maiores empresas de telecomunicações dos EUA, concordaram em manter zonas de amortecimento em pelo menos 50 aeroportos – onde o sinal seria inativado – incluindo grandes centros como o Aeroporto Internacional John F. Kennedy de Nova York e o Aeroporto Internacional de Los Angeles.

A longo prazo, FAA precisaria testar e certificar altímetros para operar perto de estações base 5G, um a um, avião por avião, o que, certamente, não será feito do dia para a noite.

Fontes e referências:

5G phones: How serious is the threat to US flights? BBC news. 19 de janeiro, 2022.

AT&T and Verizon are limiting C-band 5G expansion around airports even more. The Verge. 18 de janeiro, 2022.

Explainer: Do 5G telecoms pose a threat to airline safety? Reuters. 18 de janeiro, 2022.

Why are airlines squaring off against wireless companies over 5G? NBCnews. 19 de janeiro, 2022.

Why Airlines Are Worried About 5G. New York Times. 20 de janeiro, 2022.

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