Não falta areia no mundo, certamente. Afinal, ela cobre vastas extensões de praias e desertos em todo o globo.
No entanto, a matéria-prima é usada em quantidades gigantescas na construção civil e na indústria.
A areia é usada na fabricação de muitas coisas, como smartphones, telas de TV e painéis solares.
Somente no setor de construção, 40-50 bilhões de toneladas desse material são usados anualmente em todo o mundo.
Esse número é liderado pela produção de concreto, que normalmente é composto de cerca de 25% de areia.
O problema quando se trata de abastecimento é que a maior parte da areia do deserto ou da praia é inadequada tanto para a manufatura quanto para a construção: a areia do deserto é muito lisa e a areia da praia tem muito sal.
Por isso, a areia usada industrialmente é tipicamente dragada de rios e, devido aos danos ambientais desse processo, vários países estão preocupados e alguns até introduziram proibições para esse processo nos últimos anos.
Países como a China e a Índia, que estão a todo o vapor e passando por um boom de construções, já estão tendo problemas no abastecimento de areia.
Inclusive, na Índia, a escassez do material alimenta a mineração ilegal de areia, controlada por gangues criminosas, conhecidas como “máfias da areia”.
Pesquisa usa plástico reciclado no concreto
Para tentar reduzir a necessidade de areia, um número pequeno, mas crescente, de pesquisadores está se voltando para a tecnologia e a inovação em busca de alternativas.
Entre eles está o Dr. John Orr, professor de Estruturas de Concreto na Universidade de Cambridge, Inglaterra.
A pesquisa liderada pelo professor descobriu que os resíduos de plástico podem ser separados, limpos, triturados e utilizados como alternativa a uma parcela da areia usada no concreto.
O estudo examinou especificamente o impacto potencial do uso da solução na Índia, onde o custo da areia disparou nos últimos anos. Ao mesmo tempo, no país, as estimativas sugerem que 15.000 toneladas de lixo plástico são despejadas todos os dias.
“Descobrimos que é possível substituir até 10% da areia do concreto pelo plástico, e ele tem a mesma resistência e a mesma longevidade”, diz o professor Orr.
Ao contrário da areia, o plástico não gruda na pasta de cimento ao seu redor, por isso só pode substituir 10% da matéria-prima, diz ele. “Mas isso ainda evita a necessidade de uma grande quantidade de areia e ajuda a reduzir a grande quantidade de resíduos de plástico nas ruas da Índia.”
Do ponto de vista do custo, usar o plástico pode ser mais barato, em termos gerais, especialmente porque a areia sobe de preço à medida que se torna mais escassa, e nos países com um boom de construção, o uso de plástico em concreto pode crescer em popularidade.
Ao mesmo tempo, outras pesquisas estão sendo feitas sobre o uso de outros materiais residuais em concreto no lugar de areia, como pneus de carros velhos picados ou vidro esmerilado.
O Dr. Orr avalia que se o uso de plástico na fabricação de concreto fosse adotado em toda a Índia, poderia economizar 820 milhões de toneladas de areia por ano.
Fonte:
Bernd Debusmann Jr. Using plastic waste to help solve sand shortages. BBC news. Em: www.bbc.com/news/business-57832425, 19 de julho, 2021.