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Conheça as principais causas de problemas nas fundações de edifícios

A fundação é o elemento da construção que tem a função de transmitir as cargas da estrutura ao solo em que ela se apoia.

Estima-se que essa parte da construção tenha um custo de até 6% do valor total da obra, mas dependendo das condições do terreno e do tipo de estrutura a se construir, o custo da fundação pode chegar a 15%.

Tamanha é sua importância, que existe uma área da Engenharia Civil só para tratar dos problemas relacionados a essa estrutura, área conhecida como “Patologia das Fundações”.

Por isso, veja quais são as principais causas de problemas nas fundações e como fazer para evitá-las.

Falha ou falta de investigação do solo

O solo é o meio que vai suportar todas as cargas da construção, transferidas para ele através da fundação.

Devido a isso, é imprescindível que se conheça o exato tipo de solo presente no local da obra, bem como todas as suas características. Essa área é conhecida como geotecnia.

Para explorar e conhecer o solo, devem ser usados métodos de investigação padronizados, que fornecem informações sobre as camadas do subsolo, a capacidade de carga do solo, o nível do lençol freático e a classificação do solo em várias profundidades.

Esses conhecimentos são fundamentais para que possa se projetar a fundação mais adequada para aquele local específico. No entanto, no Brasil, infelizmente, muitas obras ainda são executadas com pouca ou nenhuma investigação do solo.

Falha no projeto ou na execução

Com o conhecimento sobre o solo adquirido, deve-se projetar como e de que forma as cargas da estrutura serão transferidas ao solo.

A definição do tipo errado de fundação para as características de um determinado solo, ou um desenho errado de projeto e a execução errada dessa parte da obra, pode trazer consequências graves que podem aparecer tão logo a obra fique pronta ou até mesmo depois de anos de obra finalizada.

Os famosos prédios tortos de Santos são um clássico exemplo desse tipo de falha.

Prédios tortos em Santos. Fonte: TV Tribuna.

Por ser uma cidade litorânea e ter sido construída principalmente sobre antigos terrenos de manguezais, a cidade de Santos tem um dos solos mais difíceis do país para a construção de fundações.

Mesmo com esses solos difíceis, na década de 1960, a maioria dos construtores da cidade optou por métodos baratos de construção sem averiguação correta do tipo de solo e de suas particularidades.

Como resultado, falhas de sondagem do solo e de projeto provocaram, com o tempo, um recalque acentuado em vários edifícios, deixando-os tortos.

Outro exemplo de falha de projeto é o edifício Millennium Tower, que está no coração de São Francisco, na Califórnia.

Millennium Tower. Imagem de: Michaelgimbel, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons.

O arranha-céu foi concluído em 2009 e custou 350 milhões de dólares. A torre é um condomínio residencial extremamente luxuoso, e tem 260 metros de altura e 58 andares.

Desde o seu lançamento, no entanto, o prédio vem apresentando problemas sérios na fundação, e já afundou cerca de 43 centímetros e inclinou outros 35 centímetros.

Engenheiros estruturais dizem que o problema é que a fundação da torre atinge apenas uma camada de areia, logo acima de uma camada de argila, em vez de mais para baixo na rocha.

Essa prática de construção era comum nesta parte de São Francisco, onde a rocha é bastante profunda sob espessas camadas de solo macio, areia e argila. No entanto, isso é seguro apenas para edifícios que são muito mais curtos e leves do que a Millennium Tower.

Recentemente, um plano milionário foi aprovado para adicionar à Millennium Tower algumas estacas de concreto de 60 centímetros de largura e impressionantes 6 toneladas, no perímetro ao longo dos lados norte e oeste do edifício, para ancorar a torre à rocha a 76 metros abaixo do solo e reverter a inclinação.

Falta de manutenção

Por fim, como qualquer outra estrutura, a fundação também pode precisar de manutenção.

No entanto, em razão das dificuldades de se fazer manutenção em fundações, é mais fácil prever as ações atuantes e prevenir a sua adulteração, analisando sempre todos os fatores locais que podem alterar a sua durabilidade.

Mesmo assim, é importante que avaliações periódicas sejam feitas. A demora para se fazer a manutenção de uma obra pode trazer não só risco aos usuários, mas também despesas enormes, e quando se fala em fundação, isso não é diferente.

A falta de manutenção das construções, especialmente a preventiva, já é até cultural no Brasil. Isso é visto principalmente nas obras públicas, onde o poder público prioriza sempre a execução do projeto e não delimita avaliações periódicas do estado de conservação.

Em resumo, se você investigar o solo e entender suas particularidades, e com isso planejar e executar a fundação de forma correta, prevenindo a adulteração das estruturas e planejando sua avaliação periódica, certamente a sua fundação será segura e a chance de problemas acontecerem será pequena.

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Referências

Militisky, J.  Patologia das Fundações. Edição 01 São Paulo-SP. Oficina de Textos. 2005.

Furtado, D. Patologias em fundações e suas correlações com as investigações geotécnicas. 2018.

Felix, F.F. Uma análise sobre as manifestações patológicas presentes em fundações na construção civil. Centro Universitário do Cerrado. 2018.

Martino, G. “A história dos edifícios tortos de Santos” 31 Mai 2021. ArchDaily Brasil. Acessado 15 Jun 2021. <https://www.archdaily.com.br/br/961668/a-historia-dos-edificios-tortos-de-santos> ISSN 0719-8906.

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